Fazendo ela Sofrer ~

sábado, 30 de agosto de 2008

Capítulo três: Mudança de sala da auê.


- Christopher, o senhorito sabe que se aprontar, volta pro 2°B, não sabe? - o intimou à coordenadora do ensino médio, Ramona. O garoto loiro fez que sim com a cabeça, estava bem despojado, mochila nas costas, calça jeans segura por um cinto de boy, tênis freeday e boné. - Então eu poço ficar tranqüila, porque você vai se comportar?
- Sim, senhora - disse Chris bocejando.
- Vai lavar esse rosto antes de entrar, por favor!
- Er... é que eu estudei pra prova de geometria...
- Acho bom que o senhorito esteja querendo mudar - disse Ramona rudemente, como de costume. - Você é um dos alunos mais problemáticos que eu já vi. Pichação, bebendo bebida alcoólica no banheiro, rabiscando caderno de outros alunos, vandalizando o refeitório com fotos eróticas das suas namoradinhas... - Ramona deu um suspiro alto, que fez Christopher sair de sua soneca em pé. - E a lista continua! - terminou ela dizendo.
- Estou querendo melhor, meu amor - disse o loiro com sarcasmo. - Só precisava mesmo sair do meio dos meus amigos.
- Que ótimo!
- Posso entrar então?
- Pegue aqui - entregou o bilhete que explicava a mudança dele de sala. - É só entregar pros professores, que eles vão colocar seu nome na lista de chamada.
- Certo - ele colocou a mão na maçaneta da porta. - Mais alguma coisa, amor?
- E pare de me chamar de amor, porque eu posso tirar pontos de você - Christopher ergueu uma mão em sinal de paz. - Agora entre.
- Como queira - e ele abriu a porta e vinte e três cabeças viraram para olhá-lo entrar, dentre eles três garotos que o odiavam. Christopher procurou não dar importância para o silêncio que nasceu na sala, ele pegou e deixou o bilhete na mesa do professor e foi procurar um lugar para se sentar. Jhenny logo se levantou e veio abraçá-lo.
- Amor da minha vida - ela disse, beijando-o no rosto e dando aquele aperto nos braços dele. - Você conseguiu mudar de sala. Bem-vindo!
- Valeu, minha gata.
Matheus só olhou de canto, balançou a cabeça diante da atitude dos dois e ficou rabiscando o caderno na carteira. Ele não gostava mesmo daquela amizade sem limites, por que além de ter que dividir a namorada, escutava cada coisa dos pessoal do time, dos amigos... era humilhante estar namorando Jhenny e vê-la se agarrando com o Chris.
- Beleza, cara - cumprimentou Christopher.
- Tranqüilo - disse Matheus, e mandou um olhar para Jhenny, fazendo a garota perceber que estava com ciúmes. - Mudou de sala por quê?
- Ah... os cara só queriam zoar e eu quero passar de ano.
- Puts, você acha que vai fazer isso trocando de sala? - zombou Matheus, rindo baixinho. - Vey, na boa, isso não vai dar certo.
- Se você tá falando por você...
- Ah gente, por favor, né - pediu Jhenny, sentindo o clima tenso entres eles. - Não vamos começar de rivalidade aqui. Se querem fazer isso, façam longe de mim, porque eu não quero saber de briguinha tosca.
- Por mim ta de boa - disse Chris, puxando uma cadeira universitária e sentando mais pro canto, mais dizer no fundão da sala, já que ele não queria causar problemas para a amiga e nem tinha amigos ali. Logo a frente estava Dulce e uma menina ao lado dela. - Hei - ele chamou a atenção de Jhenny.
- Oi...
- Ela é CDF?
- Bastante.
- Puts... como é difícil ser burro cara³
Jhenny deu risada.
- Você não é burro, amor, só precisa estudar e prestar atenção no que o professor diz - disse ela como se fosse óbvio, o loiro revirou os olhos em sinal de zombaria, e logo puxou a carteira dela para traz, fazendo um barulho que todo mundo percebeu. - Chris, não assim.
- Senta comigo, minha gata, por que eu não quero ficar sozinho.
- Mas o Matheus... - ela disse baixinho, vendo o pescoço do namorado ficar meio vermelho, o que demonstrava que ele estava com raiva. - Você sabe Chris, ele não engole você.
- Nossa... valeu, então é assim - disse ele se fazendo de ofendido e chateado, Jhenny torceu o nariz por conta do jeito chantagista do amigo.
- Meu, você vai arranjar problemas pra mim - e colocou a carteira do lado da dele, Christopher deu uma risadinha baixa. - Se eu ficar sem namorado você vai me assumir - mostrou o pai de todos pra ele.
- Vai nessa, gata, vai nessa.
Jhenny abraçou Matheus por trás e ficou dizendo coisas melosas pra ele, pra que o garoto não ficasse mais puto e ofendido do que já estava. Matheus ficou indiferente no começo, mas depois que foi recebendo uns beijinhos carinhosos, adulação de palavras, foi maneirando e logo deu um beijo bem apaixonado em Jhenny, pra ela saber quem ele era ali. Logo ela sorriu e foi se sentar com Christopher, que tirou uma por causa do paparico.
- Aposto que ele faz isso pra você alisar a crista dele - comentou Chris maliciosamente e recebeu um tapa no ouvido. - Aí! Que isso, Jhenny, era só brincadeira. - ficou zangado, por que o ouvido estava zunindo.
- Você é idiota.
- Doeu.
- Continua falando merda então - rosnou a garota cruzando os braços, ficou de cara amarrada. - Largo o meu namorado pra vir ouvir essas coisas... ¬¬'
- Volta pra lá então - o loiro mandou, grosseiramente.
- Agora me agüenta.
- Tá, eu acho que posso suportar - Jhenny fez uma cara de nojo pra ele.
Christopher tirou o caderno da mochila, a caneta, e abriu logo na primeira última folha, ficou desenhando um diabinho.
O professor chegou na sala um pouco depois, o professor Dior, de cálculos. Fez a chamada, conversou alguma coisa com os alunos da frente, depois olhou para o aluno novo lá do fundo.
- Christopher Uckermann?
- Eu, professor.
- Mudou de sala?
- É.
- Espero que pelo menos aqui você tire notas boas - disse Dior tirando risinhos de alguns. Dulce olhou para traz, e acenou com a cabeça para ele, Christopher fez o mesmo, e logo ela voltou-se para frente. As aulas transcorreram rápidas, logo veio o intervalo, e depois mais um porre de exercícios físicos e a prova de geometria. Quando o sinal de encerramento tocou, Rafael, Gabo e Johan vieram puxar papo com Christopher.
- Então agora virou cara sério - disse Gabo debochado.
- Peraê, Christopher virar sério ou é porque apanhou em casa ou mudou de time - disse Rafael, os garotos riram menos Christopher que continuava na dele.
- Nem se defende? Já até se convenceu né?
- Dá licença que eu vou vazar... – disse ele e os garotos seguram-no onde estava e o rosto do loiro não se tenso, largou a mochila e encarou os três. - O Que-quê tá pegando? Ãh?
- Vai pleitear é? - perguntou Johan.
- E daí? Vocês é que vieram aqui me incomodar.
- A gente só veio dar um recado - falou Rafael com desdém e apontou o dedo pra ele. - Se você se meter com a mulher do Matheus, a gente vai se encrencar.
Christopher apertou os punhos, sentindo as veias queimarem na pele.
- Vey, fica na tua, beleza? - disse Gabo com um olhar sério, mas o loiro estava ficando furioso.
- A "mulher" dele é minha amiga - disse bem autoritário.
- Isso não ti dá o direito de ficar alisando ela do jeito que você fez hoje quando chegou na sala - disse Rafael.
- Mano, fala de uma vez que vocês não foram com a minha cara e pronto - disse Christopher neurótico. - Não precisa arranjar desculpa pra vir falar comigo.
- O recado à gente já deu - finalizou Gabo - agora é contigo, vey...
- Vai a merda moleque - mandou Christopher e só viu neguinho caindo em cima dele. As meninas que estavam conversando na porta, se despedindo como de costume, começaram a gritar "briga! Briga! Briga!" e logo uma rodinha já tinha se formado. Jhenny e Matheus chegaram pra ver o que tava rolando, e a garota ficou berrando quando viu o amigo embolado. Matheus mesmo contrariado foi ajudar Christopher, pela namorada. Tudo aconteceu de forma tão rápida, que logo os coordenadores baixaram na sala e acabaram com o auê. Dulce ficou impressionada pela briga dos garotos, pois nunca tinha visto nenhuma de perto. Os meninos foram pra diretoria, receberam advertência, os pais foram comunicados e por fim foram embora, restando apenas Christopher.
Jhenny veio falar com ele junto de Matheus.
- Chris você tá bem? Por que vocês brigaram? Qual era a daqueles idiotas? - ela o bombardeou com perguntas.
- Calma, Jhenny, porque o motivo foi você.
- Como assim, eu?
- Os cara vieram falar que não era pra eu chegar perto de você, por causa do Matheus.
- Meu, eles fizeram isso? - quis saber Matheus, meneando a cabeça.
- Não sabia desse teus amiguinhos... - disse Christopher com raiva, mas se contendo pra não falar merda.
- Nossa, foi mal, Chris, eu juro que não falei com eles nada!
- Esquece, tá di boa.
- Puts, eu não acredito que eles ti embolaram por isso - falou Jhenny, fungando, porque ficava muito sensível quando se tratava de Christopher. Algumas lágrimas caíram. - Eles são muito idiotas…
- Ohh... não chora, meu amor - disse Matheus, abraçando-a com carinho.
- Eu sinto muito, Chris...
- Tranqüila, Jhenny, aconteceu fazer o quê. - Ele arrumou a mochila nas costas. - Eu vou indo nessa gente... me liga qualquer coisa, eu apareço.
- Ta... Tchau, Chris - disse ela.
- Tchau, cara.
- Tchau pra vocês...
e ele vazou dali, indo direto pra casa.


Sarah, Érica e Conrado estavam sentados no meio-fio, rindo, conversando e tomando tererê (erva com sabor que vai numa cunha, e em vez de água quente, como se usa no chimarrão, é usado suco bem gelado... uma delicia pra quem nunca provou xD). Os três eram super amigos e estudavam juntos no Barão Vermelho, uma escola particular cheia de pessoas com muito³ dinheiro. Dulce chegou logo depois, animada, e os amigos abraçaram-na e ela já foi se sentando ao lado de Conrado que passou um braço em volta ombros da garota. A fofoca rolou solta, apesar do ventinho frio começar a aparecer, porque o tempo estava fechado, os quatro ficaram numa boa. Vez ou outra, um deles ia fazer mais suco pro tererê, na casa da Érica. Até uma algumas músicas eles cantaram, chamando a atenção das pessoas que passavam pela rua.
- Guria, a festa vai ser legal! - comentou Sarah toda alegrinha, estavam discutindo o assunto "sete minutos no céu" que iria rolar no fim de semana. - Eu nem sei por que não tinha feito isso antes...
- Deve ser porque ti falta aquilo que chamamos de neurônios - zombou-a Conrado, e as garotas riram menos Sarah.
- O meu tico e téco funcionam muito bem, obrigado ¬¬°
- E a gente pode vir vestida normal ou precisa de uma superprodução? - perguntou Érica, porque ela adorava se arrumar e arrumar as amigas pras festas.
- Falou a vaidosa ¬¬ - disse Conrado com sua cara de vaca de caiu do caminhão.
- Sempre! - exclamou a garota, o olhando com sarcasmo. - Não tenho culpa se você é preto e tem cabelo ruim.
- Menina, eu sou chocolate e não preto - protestou o garoto, que realmente era só moreno, mas tinha uns olhos verdes lindos e uma boca carnuda que se abria num sorriso que devastava metade dos corações femininos. Até as que tinham preconceito acabavam encantadas por Conrado. Sem contar que o garoto era muito cheiroso e se vestia bem. - E o meu cabelo é bonito - tirou o boné pra mostrar seu moicano bagunçado.
- Ai credo! - disse Sarah olhando a cabeça do amigo. - Quando você vai mudar esse penteado aí? Já passou da hora viu...
- Orra, mas se é justamente isso que conquista as mulheres.
As três caíram na risada, tanto que Érica chegou a segurar a bexiga.
- Gente eu vou ao banheiro, senão eu mijo nas calças - avisou ela e saiu correndo para dentro de casa.
- Então Dul - Sarah mudou o centro da conversa, ainda rindo. - Já arranjou alguém?
- Não... - respondeu a ruiva, as faces coraram devido a pressão que era, só pra encontrar um garoto que concordasse em ir com ela.
- Nem foi atrás, garanto.
- É.
- Dul, nem é tão difícil assim arranjar um garoto, por favor... - Sarah revirou os olhos, colocando mais suco na cunha. - Até a Érica que tem a cara manifestada de espinhas conseguiu.
- Hei, eu ouvi isso ¬¬ - disse a própria, voltando a se sentar no meio-fio. - A Dul ainda não arranjou?
- Nem.
- Nossa, miga, hoje em dia ta chovendo gatinho... principalmente no teu colégio - argumentou Érica incentivadoramente. - Aposto que se você quisesse tinha um monte aos teus pés.
Dulce meneou a cabeça, dando risada pelo jeito fácil que elas faziam as coisas. Lógico, pra garotas iguais a elas, sempre chovia homem, mas para ela que gostava de ficar mais quieta, light, faltava homem no mercado.
- Puts, Dul, nem liga pra essas galinhas não - fermentou Conrado bem humorado. - Você é moça direita. Foi feita pra casar e não ser comparada com essas quaisquer.
- Ah tá...
- Sei...
- Gente, vocês sempre ficam pegando no pé da garota - disse ele com raiva. - É incrível como tudo pra vocês gira em torno de macho.
- A Dulce nunca fala de garotos, nem se tem amigos lá no colégio dela - começou Érica revirando os olhos.
- Até parece uma beata - completou Sarah arrumando a erva na cunha. - A gente não fala por mal, só estamos querendo que ela aprenda um pouco da vida, aprenda que nem tudo são livros, estudar, mexer na internet.
- Como se vocês não ficassem no orkut o dia todo - desdenhou Conrado.
- Por favor, dá pra parar? - pediu Dulce de saco cheio daquele papo. - No fim de semana eu vou aparecer com um garoto, se é que vocês fazem tanta questão disso - e desviou os olhos para a vizinha que lavava a calçada de frente pra eles.
- Duvido... - murmurou Érica desafiante.
- Paro gente, ela não quer mais falar disso - saiu Conrado em defesa da ruiva.
- Pode duvidar, se eu to dizendo que vou é porque vou - e a ruiva fechou a cara, se distraindo o máximo do assunto novo que eles começaram...


Quando Dulce cruzou o portão na manhã seguinte, três garotos bonitos vieram falar com ela. Um deles até mesmo lhe deu um beijo na bochecha, em sinal de amizade.
- Quero te apresentar aos meus amigos - disse Christopher sorrindo, e foram andando até o chafariz do pátio. - Esse é Dude - mostrou o de cabelo chocolate, olhos bem amendoados… cheiroso.
- Oi - ele cumprimentou-a com um beijo.
- Esse aqui é o Carlos, o mais mala - Chris apontou para o garoto de cabelo castanho e olhos bem verdes.
- Oi pra ti - e também deu um beijo na bochecha dela.
- Oi - disse Dulce timidamente, acenando com a mão e sorrindo com vergonha. Ela olhou para eles, sem saber o que dizer, ou se ia embora...
- Falei pra eles que você é do grêmio e tal... Que vai me ajudar a tirar notas boas - disse o loiro com sarcasmo.
- Então você é estudiosa - Dude piscou um olho.
- Acho que sou...
- E bonita também, que sorte... nem todas as beldades tem cérebro xD - disse Carlos, e os amigos riram, mas a ruiva ficou vermelha.
- Agora vai ajudar o moleque a passar de ano, ê sorte - comentou Dude, dando umas palmadas nas costas de Christopher.
- Que isso... Eu sou um cara esforçado - ele garantiu rindo gostosamente. - A Dulce nem sentar perto de mim não senta.
- Ah que isso... Você tá sozinho lá cara? Que dó - Carlos apertou o rosto de Chris, fazendo biquinho, mas o loiro o empurrou de brincadeira, despertando risadas.
- Cala a boca...
- Você tem que sentar com ele - falou Dude puxando saco pro lado do amigo. - Ele até sabe fazer umas continhas de dividir - até Dulce riu dessa vez.
- To vendo que vocês têm bom humor - disse a ruiva, um pouco mais a vontade com eles, porque nunca teve rodeada de três garotos ao mesmo tempo. Ainda estava meio zonza.
- Então você vai sentar comigo né? - Christopher fez cara de pidão. - Diz que sim, minha linda...
- Olha aí, já tá jogando charminho pra cima da guria - debochou Carlos dando risada. Dulce franziu o cenho.
- Claro que não... Eu to só implorando pra uma alma caridosa me fazer companhia
Os dois: - Ahhhh... Que lindo...
- Eu sei que eu sou xD - disse o loiro com um sorrisinho de canto, voltou a olhar para Dulce. - Então senta comigo, vai? Diz que sim - e começou a puxa o abrigo dela pra baixo. - Diz, diz, diz...
- Okay! - ela exclamou rindo, revirou os olhos quando Dude e Carlos piscaram ao mesmo tempo. - Mas é pra estudar.
- Lógico!
- E nada de papo.
- Tá bom.
- Mas e a sua amiga Jhenny... - a ruiva mordeu a língua, olhando-o nos olhos.
- A Jhenny o quê?
- Ela não tava sentada ontem com você?
- O namorado dela não curtiu muito... foi até por conta disso a briga de ontem.
- Vey, aquilo foi criancice dos caras... - disse Dude sentindo ódio só de imaginar.
- Verdade. Eles nem são chegados do Matheus pra começo de conversa - replicou Carlos cruzando os braços no peito. - É... pra ti ver como o mundo tá virado do avesso.
- Eu não sabia disso - comentou Dulce timidamente. - Que tipo...
- É. Por isso que eu vou deixar a Jhenny quieta na dela - falou Christopher sério, pensando que se não o fizesse a coordenadora poderia trocá-lo de sala e isso não seria legal, nem colaborador para seu plano de entrar pro grêmio. - Mas agora eu tenho você - sorriu arrancando um risinho da ruiva.
- Agora tem - a garota concordou.
- Hummmm... - Dude e Carlos colocaram malicia.
- Vocês não têm nada pra fazer não é?
- Não.
- Nada.
Nessa hora o sinal pra entrar tocou.
- A gente se vê no intervalo - disse Christopher, de despediu dos amigos e foi caminhando no corredor com Dulce. - Nem liga pros caras, eles só falaram pra incomodar.
- Tudo bem, Chris, eu notei.
- Você realmente é esperta - ela riu.
- São seus olhos...
- Que nada. Eu sou nó-cego.
- Ah é - ela revirou os olhos, rindo.
- Orra, não acredita em mim não, é? - Chris jogou charminho, se fazendo de loco. - Ah, pode deixar... Nem vai responder né? Tá bom então - a ruiva riu novamente.
- Ai, ai...
Eles entraram na sala e ambos foram se sentar no fundo. A menina que fazia dupla com Dulce estranhou ao vê-la com Chris, mas não disse nada. O celular da ruiva vibrou, indicando uma mensagem, ela leu rapidinho e apagou.
- Aham... Recebendo recadinhos do namorado né? - Christopher jogou um verde, sorrindo com sarcasmo.
Ela balançou a cabeça.
- Eu não tenho namorado.
- Ah... - ele apoiou o cotovelo na mesa e descansou a cabeça na mão, só para olhar pra ela. - Duvido que não tenha.
- Sério - Dulce riu -, eu não tenho.
- Como é isso? Você tão gatinha...
- Ah sou - e revirou os olhos, achando aquele tipo de conversa totalmente nova. - Vai pensando assim.
- Por que você não tem, ainda não apareceu o cara certo?
- Acho que meninas que estudam de mais, não tem tempo pra isso... - foi o argumento dela.
- Ah, quer dizer que estudar ti impede de ser feliz? - o loiro arqueou uma sobrancelha debochado. Dulce negou com a cabeça.
- Não é isso... Eu só não encontro tempo.
- Mas você tem seus rolos, não tem?
- Por enquanto to na minha...
- Os homens andam meio fraco pelo visto.
- Talvez...
- Garota você é muito evasiva - disse Christopher sorrindo, na brincadeira, e ela riu.
- Impressão sua.
- Sei, sei.
Logo Jhenny e Matheus chegaram e cumprimentaram os dois.
- Fazendo pão né, Christopher... - disse Jhenny dando risada.
- Por enquanto só a massa - o loiro piscou pra ela.
- Sei né... daqui a pouco tá no forno...
- E pronta pra comer - deu uma olhada de relance pra Dulce, à garota corou até ficar da cor do cabelo, porque entendeu muito bem a indireta dos dois. - Mas iai, dormiu bem? - perguntou sarcástico.
- Muito bem - assentiu Jhenny. - Você vai ir ao jogo hoje?
- Que horas?
Matheus foi quem respondeu:
- As seis... lá no ginásio.
- Sei onde fica - disse Chris sorrindo. - Eu apareço por lá.
- Beleza então - Jhenny e Matheus foram se sentar mais pra frente.
- Vamos comigo no jogo? - ele convidou Dulce, pegou o estojo cor-de-rosa dela e abriu pra ver as coisas que tinha dentro.
- Não sei se eu vou poder...
- Ah, dá um jeito. Eu até passo na tua casa - Chris revirou as canetas da garota, até pegou uma verde pra escrever o nome dele no caderno. - Orra, que fera essa caneta, dá ela pra mim? - pediu na maior cara de pau.
- Mas é uma caneta de bichinho - a ruiva riu franzindo o cenho.
- E daí. Eu gostei dela - ele levantou a caneta na altura dos olhos e deu uma olhada nas vaquinhas amarelas desenhadas na caneta. - Muito³ fera. - Dulce riu.
- Se você gostou, então fica com ela.
- Valeu - e rapidamente ele beijou a bochecha dela, a garota ficou envergonhada.
- Que arranques você tem - murmurou bem baixinho, pro loiro não ouvir.
- Quê?
- Nada não.
- Ah, você é dessas né? - estreitou os olhos, mas a garota riu.
- O professor já entrou na sala - disse Dulce tentando fazer ele olhar para frente e não para ela.
- Não dá nada.
- Chris, você disse que não ia ficar de papo comigo, lembra?
- Ele ainda nem deu a matéria.
- Não tem problema... você tem que prestar atenção do mesmo jeito
- Que foda :X

A ruiva só balançou a cabeça negativamente, rindo da cara de bobo de Christopher, voltou a fazer uns rabiscos no caderno.
Toda hora Christopher ficava pedindo explicação disso ou daquilo, às vezes vinha com umas conversas malucas, e Dulce acabava rindo de tão tosco que ele chegava a ser. Ele por outro lado estava adorando diverti-la e até já estava se acostumando com a risada da garota. No intervalo os amigos dele ficaram só pisquiando pro lado dela, falando bobagem, até uma garota loira grudar no pescoço de Dude o carregar dali. Logo acabou o intervalo e os dois voltaram pra sala. As aulas transcorreram lentas, mas quando se encerrou, Dulce se sentiu livre.

O celular da ruiva começou a tocar e no visor apareceu "Conre xD" de Conrado. Ela atendeu animada.
- Oi lindo - o cumprimentou Dulce, andando do lado de Christopher, Jhenny e Matheus no corredor.
- Saiu da aula já?
- Sim.
- Eu to ti esperando aqui no portão.
- O que deu em você?
- Saudades xD
- Ah tá ¬¬'
- É que eu vou ficar a tarde inteira sem fazer nada... pensei em levar a gente pra almoçar. Topa? - perguntou Conrado imperativamente.
- Er... tá - disse a ruiva, olhando de esguelha para Chris. - Er... uh... a que horas você me deixa em casa? Eu tenho que estudar...
- Às três e meia, pode ser?
- Falou então.
- Até - e ele desligou.
- Vai sair com quem? - perguntou Christopher, não conseguindo segurar a língua dentro da boca.
- Com um amigo aí.
- Ãh... E isso não vai atrapalhar o que a gente marcou mais cedo, né?
- Não - respondeu Dulce, mexendo em alguma coisa no celular, pra evitar ficar encarando-o.
- Onde fica a tua casa?
- Agenda o meu número.
- Me passa - Chris pegou o celular do bolso e incluiu-a na agenda. - Certo... eu ti ligo uns quinze minutos antes, pode ser?
- Pode. Daí... não vai precisar você passar lá em casa e tal... - falou a ruiva, super sem graça com ele.
- Nãhm... Eu faço questão de ti buscar...
- Você que sabe - e ao chegarem no portão, ela avistou Conrado encostado em sua moto com dois capacetes na mão. - Então... eu já vou - beijou-o na bochecha e foi se afastar, quando Christopher a abraçou de repente.
- Pra você não esquecer de mim - ele murmurou marotamente e baixinho.
A garota sentiu o corpo dele quentinho e cheiroso, e devolveu o abraço mesmo que timidamente. Era bom estar com o nariz colocado no ombro dele, sentindo o perfume de garoto, a essência da sua pele... nunca tinha estado tão perto de alguém como estava agora, a não ser de Conrado, que era seu amigo há um tempão.
- Tchau - Christopher soltou-a e sorriu, fazendo-a corar.
- Tchau... - e a ruiva saiu andando na direção de Conrado. - Oi - disse sem graça.
- Quem é o garoto? - perguntou o moreno com uma cara feia.
- Meu amigo.
- Hum... você nunca falou nada dele.
- É que faz pouquinho tempo que eu o conheço. Vamos? - cortou o assunto, antes que ficasse mais constrangida do que já estava.
- Vamos...
e subiram na moto, sem olhar para trás.
Jhenny veio se despedir de Christopher, que estava mordendo o lábio com uma expressão séria no rosto.
- Que se tem? - ela perguntou franzindo o cenho.
- Só pensando.
- Na Dulce?
- É. Ela é legal, bonita... e manda super bem nos estudos - olhou para Jhenny.
- Ficou a fim dela né? - a garota abriu um sorriso.
- Acho que sim.
- Christopher, olha lá em...
- Meu, fica tranqüila, ela é parada de mais pra mim.
- Acho bom mesmo - disse Jhenny suspirando. - Então, eu vou ir pro McDonald´s, você não quer ir junto?
- Fiquei de ir com o Dude e o Carlos num lugar aí.
- Ãh... então tá né... beijo - e ofereceu a bochecha para ele.
Christopher beijou-a e acabou dando uma mordida nela.
- Aí, isso vai marcar...
- Vai não - ele passou a mão no rosto dela e Jhenny logo se foi. - Essa guria...
Dude veio vindo e deu um pulo em cima dele feito um macaco, mas só na brincadeira.
- Ahhh, pegando a CDF né...
- Nada a vê.
- Chris, Chris, quem não te conhece que te compre - disse Dude com sarcasmo ácido. - Eu vi vocês se abraçando. Aqui passa algo, papito, você não me engana.
- É só amizade cara...
- Tá... nem discuto... Bora?
- Vamos.

Capítulo dois: O novo amigo de Dulce Maria.


Dulce caminhava pelo shopping bem tranqüila, quando o celular começou a vibrar. Ela olhou no visor o número conhecido e atendeu logo em seguida, sem parar de andar.
- Oi bruxa - cumprimentou a amiga do outro lado da linha. - Eu não sabia se você tava em casa ou não, aí resolvi te ligar. Tudo bom?
- Tudo sim e você com tá? - perguntou Dulce, rindo pelo jeito alegre de Sarah.
- Guria, eu preciso ti contar umas fofocas! - Dulce revirou os olhos, só de pensar nas inúmeras besteiras que saíram dali. - Nossa, uma mais trech que a outra.
- Sarah, se for sobre meninos...
- Dul, você tem que parar de ser assim... qual é... tanto gatinho por aí dando mole... você deveria pegar, nossa, uma garota bonita igual você - e Sarah foi enchendo a bola, até lembrar porque tinha ligado para a ruiva. - Então, meu pai vai dar uma festa nesse fim de semana, só pros meus amigos mais íntimos, e como você é a minha best favorita, eu to ti ligando xD
Dulce deu risada, parou na frente de uma vitrine, para olhar um tênis lindo que estava em promoção.
- Miga, então, posso contar com você? - perguntou Sarah empolgadissima.
- Pode né - respondeu à ruiva, porque sabia que as amigas ficavam meio pra baixo quando ela não participava dessas festinhas e tal.
- Acho bom mesmo - disse Sarah rindo. - Dul, se sabe que eu te amo, né?
- Sei sim - disse Dulce suspirando.
- Então... será que você não podia trazer um garoto junto... tipo, só pra você não ficar de vela e...
- Sarah, o que você tá aprontando?
- Sete minutos no céu! - disse ela com voz marota, a ruiva virou um pouco a cabeça.
- Sete minutos no céu? Sarah, isso não tá me parecendo coisa boa.
- Olha aqui, sua casta, eu conto com você então não me decepcione, estamos entendidas?
- Okay, sargentona - retrucou a ruiva quase se arrependendo de ter aceito o convite daquela louca.
- Beijo, beijo meu xuxu.
- Beijo - e Dulce desligou, entrando na lojinha onde o seu novo tênis a esperava.

Christopher ficou abraçado a Jhenny o tempo todo, desde quando saíram do cinema, até depois de lancharem no Bob´s do shopping. Pra quem não conhecia os dois, nem sabia da amizade longa que existia ali, pensaria até que tinha algo entre eles. Mas os dois eram tão amigos, que nem se davam conta das suspeitas que causavam nos outros. Fazia chuva, fazia sol, Jhenny e Christopher gostavam mesmo era de botar fogo nas coisas. O namorado dela, Matheus, que era capitão do time de futebol, não gostava muito dos comentários que rolavam soltos por conta desse "carinho" exagerado de ambos, mas Jhenny nem ligava, em vez disso, ela só fazia pior. As peguetes de Christopher tinham um ódio dela, tanto quanto as ex-namoradas, porque ele largava tudo, tudo mesmo o que estivesse fazendo se Jhenny precisasse dele. Desde o tempo de Samara, eles não se desgrudavam, era até uma coisa. Um lembrava do outro por qualquer besteirinha que acontecia no dia-a-dia, ou por conta de palavras toscas.
- Ai, ai... ontem eu falei com o Matheus - disse Jhenny rindo, agarrada na cintura do amigo. - Ele disse que o técnico vai dar folga pros garotos. Aí, eu to tão feliz - falou com uma cara de pura alegria, piscando horrores. Christopher riu.
- Agora vocês vão poder namorar mas, né? - disse o loiro, fazendo charminho, mas com ar de cínico e recebeu um tapa no estômago. - Você só pensa besteira.
- Eu não... é você que pensa - respondeu Jhenny rindo.
- É né, mas vai fazer dois anos que vocês estão juntos...
- Ah, Chris, eu disse já o que rolou entre nós... não é segredo pra você - disse a garota, olhando pra frente, vendo as pessoas andando no shopping, observando eles. - Matheus nem desconfia que eu te conto essas coisas.
- Ele pensa que você fala com as suas amigas, sobre os lances sexuais de vocês, não é? - perguntou Chris, e ela somente concordou com um aceno de cabeça, e logo apertou a cintura dele.
- Ainda bem que você não fica falando mais que os cotovelos - ele deu risada. - Por que eu iria ficar muito chateada com você, se ti pegasse falando das minhas coisas pras pessoas.
- Bem capaz, Jhenny, eu nunca faria uma coisa dessas - garantiu ele distraído, balançando a cabeça e passou a mão nos cabelos dela. - Eu te amo, sua barrigudinha. - ele recebeu um beliscão no braço. - Aí, Jhenny... pra que essa violência?... - a garota caiu na risada.
- Me chamando de barrigudinha! - exclamou Jhenny ainda rindo muito, e ele a apertou o braço envolta dos ombros dela. - Eu não SOU barriguda nada!
- Claro que é... sabe aquelas meninas secas que tem uma barriquinha...? - e Christopher caiu na risada, se separando da amiga, que agora dava vários tapas nele. - Pára garota... - e prendeu as mãos dela, olhando-a com ar maroto. - É a vida.
- Seu engraçadinho - Jhenny mostrou a língua pra ele, e voltaram a se abraçar. - Até parece mesmo que eu tenho barriga sobrando... quer dizer, eu não sou paranóica que nem aquelas meninas magras que se acham gordas, mas... fala sério, Chris, eu sou reta - e passou a mão no próprio ventre, mostrando como era liso, e Christopher aproveitou e colocou a mão também.
- hum... não é que você tem razão!
- Pára seu bobo - e tirou a mão dele, rindo da cara de taxo do amigo. - Deixa o Matheus ver uma coisa dessas, que vai dar Fight.
- Que simpática você - retrucou Christopher fingindo que estava indignado. - Eu não tenho culpa se você é gostosa.
- Christopher! - rugiu Jhenny com os olhos arregalados.
- Manda ele vir que eu racho ele em dois - disse o garoto, só pra ver a cara da amiga.
- Há, vai nessa, o Matheus vira você do avesso - ela garantiu, agora largando Christopher de vez e cruzando os braços. - Aí... eu queria que ele pudesse sair mais comigo - resmungou cheia de raiva. - Tudo pro Matheus se resume em treino, futebol, MSN, orkut... Puts, eu venho em último lugar sempre ¬¬' - revirou os olhos, ficando frustrado com essa conclusão que fazia todo dia. - To pensando em ter AQUELA conversa... com ele.
- Jhenny, tem certeza disso? - perguntou Christopher dando um de sério. - Dá outra vez eu tive que agüentar lágrimas, desabafos, telefonemas no meio da madrugada... nossa - o garoto franziu o cenho, bufando -, parecia até um reality show: enlouquecendo o Chris.
- Mas eu fiquei mau de verdade quando eu e o Matheus terminamos...
- É né, Jhenny, mas vocês terminaram porque você ficou reclamando por causa do intercambio que ele faria de seis meses - lembrou-lhe Chris simbólico. - O cara tava cheio de pressão pra tudo quanto é lado... lógico que ele não tinha tempo pra ti.
- Se o Matheus tivesse me dito, muita coisa teria se resolvido - respondeu Jhenny com calma, ajeitou o abrigo no corpo. - Quando eu fiquei sabendo do intercambio quase tive um troço. Como é que o garoto ia pra outro país e não ia me dizer nada? Na certa que eu reagiria feito uma descontrolada.
- Foi isso que você fez: agiu sem pensar, magoou ele, magoou a si mesma, acabou me fazendo sofrer junto, no sentido figurativo da coisa, pra depois o Matheus desistir do intercambio e implorar pra você voltar com ele - resumiu bem Christopher, e suspirou exasperado recordando da semana mais parecida com o inferno, que já teve desde Samara.
- Sei que foi chato - lamentou Jhenny fazendo uma carinha de arrependida. - O Matheus até ficou grudento depois.
Christopher riu, mas logo seus olhos capturaram uma menina ruiva, levando uma sacola na mão direita, enquanto mexia no celular com a outra. Ela estava bonita naquela calça jeans skynny, All Star, e uma baby look preta, coladinha nas curvas da ruiva. Ele olhou de relance pra Jhenny que seguiu seus comandos e também viu a garota ali.
- Isso não é uma miragem - ele murmurou sarcástico.
- Com certeza não - concordou Jhenny fazendo careta.
- Vamos lá cumprimentar ela...
- Chris, espera - ela pegou no braço dele, o parando ali, e o olhou enquanto franzia o cenho. - A Dulce é uma pessoa tímida.
- Não me pareceu isso quando eu tropecei nela no refeitório - ele respondeu marotamente.
- Você tropeçou nela?!
- É... foi assim que eu descobri que ela era do grêmio - Christopher falou como se fosse à coisa mais óbvia.
- Tá mais... sei lá, Christopher. Eu não tenho contato com ela - informou Jhenny em duvida.
- Não tem problema. Eu falo com ela sozinho então.
Revirando os olhos, a garota o arrastou para a direção de Dulce.
- Você vai me pagar depois - resmungou entre dentes Jhenny, e ao chegarem perto de da ruiva, abriu um sorriso meio falso. - Oi Dulce.
- Oi - respondeu Dulce, sorrindo ligeiramente com as bochechas vermelhas. - Passeando pelo shopping?
- É... o Chris e eu fomos ao cinema e você sabe, a gente sempre acaba ficando por aqui mesmo - explicou Jhenny um pouco mais tranqüila. - Fazendo compras? - apontou para a sacola da ruiva.
- Ah - Dulce riu, erguendo os ombros. - Comprei um tênis pra mim. Tava precisando.
- Ai nem me fale, guria, eu também to precisando comprar um monte de coisas, mas e o dinheiro - disse Jhenny de um jeito que fez ela rir de novo.
- Vamos tomar um suco? - perguntou Christopher, olhando para ambas, e Dulce fez uma carinha de "vixi... acho que não posso". - Você mais do que ninguém me deve isso - se referiu a Dulce.
- Eu? Mas por quê? - perguntou à ruiva, toda confundida.
- Derramou suco em mim hoje sedo...
- Nossa, nem ti reconheci com esse boné - murmurou Dulce imperativamente.
- Mas isso tudo pode ser resolvido né? Você vem tomar um suco comigo e com a Jhenny! - exclamou Christopher sorrindo.
- Ah, Chris, eu fiquei de me encontrar com o Matheus, então... - Jhenny se alto dispensou, deu um beijo no rosto dele e em Dulce também. - Tchau pra vocês.
Ele meio que riu de lado, coçando a nuca.
- É né, sobrou à gente... então, andando - disse e pegou, inconscientemente no braço da ruiva, que ficou afetada com o gesto. - Então, suas amigas não ti acompanham nas compras?
- Ah, elas de vez em quando não podem sair na semana - respondeu Dulce com voz calma, e até leve.
- Perguntei só porque a maioria das garotas saem em grupo né e você aqui sozinha - ela riu...
- Mas os garotos também andam em grupinhos... você e a Jhenny são... - Dulce se enrolou pra falar a palavra, mas ele maneou a cabeça.
- Não. Somos só amigos. A gente gosta de passear sozinhos - disse Chris rindo. - O namorado dela é que fica louco com isso.
- Ele deve ter muito ciúmes de você, não?
- Ah, se tem, meu, ele não diz, nem demonstra - o loiro deu de ombros. - O cara é muito gente boa pra falar alguma coisa. Ele é capitão do time de futebol, sabia?
Dulce ficou com a boca aberta, depois riu, e mordeu o lábio.
- Se estamos falando do mesmo Matheus... ele é meu primo.
- Jura? - Christopher também riu, colocando as mãos nos bolsos da calça, pestanejou. - Nossa, ele nunca falou nada de você.
- É que o Matheus e eu não fomos muito chegados - disse Dulce distraída.
- Ah, mas ele sempre comenta dos parentes dele. às vezes ele é até chatinho - ambos riram. - Mas por que vocês... não tem afinidade, ou o quê?
- O Matheus tem outro tipo de amizade. Ele anda com uma galerinha mais agitada e tal, eu não, sou mais na minha - explicou Dulce, sem graça, e já sentindo o rosto pegar fogo com o olhar de zombaria de Christopher.
Eles chegaram e sentaram numa mesa da lanchonete perto da galeria, e Chris pediu dois sucos e batata frita.
- Mas iai... eu sei que você é do grêmio... como é funciona? - ele perguntou, jogando um verde, já que era justamente de uma desculpa que ele precisava.
- O grêmio atua de diversas formas - começou Dulce a responder. - A gente vota no que é melhor por alunos, decide aquelas coisas meninas do colégio, como o estilo do uniforme, copos descartáveis do bebedouro, cinco minutos a mais de intervalo... festas, eventos, bazar de caridade, arrecadação de fundos. Em fim, um monte coisas.
O loiro sorriu, imaginando como seria entrar pro grêmio e ter controle das coisas.
- Parece divertido - disse com toda a intenção.
- Às vezes fica insuportável.
- Por quê?
- Todo mundo quer dar opinião e vira uma bagunça só - respondeu Dulce mexendo no saleiro em cima da mesa. - Tem dias que não dá pra agüentar o pessoal.
- Eles são tudo chato?
- Nem todos, mas sempre tem um de TPM - Christopher soltou um risinho.
- É engraçado ouvir alguém reclamar do grêmio - ele disse sincero.
- Pra você ver, nem tudo é flores.
- Ou cor-de-rosa.
- Felizes para sempre.
- Até que a morte nos separe - e ambos riram com aquela bobagem, a garçonete trouxe os pedidos e os deixou sozinhos novamente. - Você faz o que no grêmio? - perguntou Christopher, abocanhando algumas batatas.
- Eu gerencio o pessoal, pra não dar bagunça - disse Dulce, tomando um gole de suco.
- E você entrou quando?
- Faz três anos.
- Ah... - a recordação dos números fez Christopher pensar em Sâmara. - Tem que tirar notas boas pra entrar?
- Há média esse ano é 8, por que a gente tá precisando recrutar algumas pessoas e tal.
- Será que eu tinha chance?
- Pra que você entraria no grêmio? - a ruiva o olhou confusa. - Geralmente garotos detestam esse tipo de responsabilidade. Ainda mais agora que o grêmio tá procurando gente que vai ser monitor...
- Monitor?
- Você ficou sabendo que agora do primeiro ano em diante vai fazer tempo integral e ainda vai virar interno do colégio? - Christopher assentiu. - Então... Precisa-se de monitores pra inspecionar os alunos, ver se todos estão nos dormitórios certinho...
- Ah, é isso... soh.
- Vai virar uma bagunça - disse Dulce com pesar.
- Bem foda essa coisa de interno, né?
- Um pouco.
- Eu queria mesmo entrar pro grêmio...
- Mas por quê? - Ela encolheu os ombros.
- Por que eu quero ser um cara direito, sei lá.
- Mas pra isso não precisa do grêmio.
- É que responsabilidade iria me ajudar a criar juízo.
- Ah, mas arranja um trampo.
- Não... meu pai não deixaria. As minhas notas já são baixas, imaginando trabalhando.
- Então o jeito seria você ser ir pro acampamento e fazer pontos - concluiu a ruiva com um sorriso.
- Pretendo fazer isso - respondeu Christopher olhando-a marotamente. - Com uma ajudinha.
- Vixi...
- Sério, eu to querendo virar um cara firme.
- Isso bom...
- Mas eu tenho que ter uma motivação.
- A Jhenny é uma boa aluna.
- Mas com a Jhenny eu me distraio e não faço nenhum progresso - os dois riram...
- E você tá pensando em pedir ajuda pra quem?
- Pra você.
- Pra mim?! - exclamou Dulce com a voz aguda. - De jeito? Nem estamos na mesma sala...
- A minha mãe vai dar um jeito nisso.
- Garoto...
- Me Chama de Chris... - ele pediu jogando charme.
- O grêmio nem é legal assim.
- Mas eu preciso MESMO participar!
- Okay, okay... não discuto mais com você.
E eles continuaram conversando e comendo as batatas fritas, até que deu a hora de Dulce e eles se despediram. Christopher ficou andando pelo shopping mais um pouco, depois foi embora. O dia tinha rendido muito e ele estava ansioso pelos outros que ainda viriam.

Capítulo um: Dulce, a garota que vai sofrer.



Três anos depois...

O celular começou a tocar o toque do despertador. Dulce dormia totalmente dentro do cobertor azul claro com estrelas, toda encolhida na posição de lado, quentinha e confortável, quando ouviu o barulho conhecido. Enfiou a mão por debaixo do travesseiro e desligou o celular que vibrava e tagarelava. Sem vontade alguma, ela foi baixando o cobertor, até estar à cabeça para fora. Forçou os olhos a enxergar naquela semi-escuridão, enquanto se espreguiçava languidamente, e bocejava. Dulce fez bico, esfregando a bochecha no travesseiro com o cheiro de seu xampu, mas depois, com muita coragem, sentou-se na cama, abraçando o corpo ainda adormecido.
- Dulce levanta! – gritou dona Blanca do quarto ao lado.
- Eu já to levantada, mãe! – gritou a garota também, revirando os olhos, já acostumada com a atitude da mãe.
Calçando as pantufas azuis, Dulce saiu para o corredor e virou a direita, entrando no banheiro. Fez sua higiene, tomou um banho rápido, e foi correndo de toalha para o quarto. Pôs a camiseta do uniforme do colégio, a sua jeans apertada, um blusão cinza, penteou os cabelos, passou a chapinha, deixando os fios lisinhos, calçou o tênis, colocou um boné na cabeça e o cobriu com a toca da blusa, e depois de passar maquiagem no olho e brilho labial, desceu para a cozinha. Tomou um copo de Nescau, guardou um pacote de bolacha traquinas na mochila – que ficava sempre no sofá da sala jogada – e saiu de casa.
- Droga, esqueci meu celular – resmungou, virou nos calcanhares, e com pressa foi buscar o aparelho, ao qual, não vivia sem. – Agora sim! – disse Dulce e voltou ao seu trajeto, precisava ir rápido para o ponto de ônibus, onde costumava esperar os amigos.
__________

Sentindo os dedos úmidos, Christopher se revirou no sofá, colocando o braço por cima dos olhos, por causa da sala iluminada. Duque latiu, tentando chamar a atenção do dono, que dormia mais do que devia. Com lamurias, ele se mexeu de novo naquele espaço apertado e acabou no chão, com a cabeça latejando.
- Caralho! – grunhiu Christopher, abrindo os olhos com aperto. Duque o labéu todo. – Sai, sai cachorro.
Ele bocejou, se ergueu do chão, e sentou no sofá. Olhou para o relógio em cima da tevê, informando que ele já tinha perdido a primeira aula. Com desgosto, Christopher foi para o banheiro, depois se trocou, comeu pão de ontem, tomou Nescau, pegou a mochila e saiu. As costas estavam doloridas, por causa da sua nova “cama”. Depois que tinha doado o quarto para Perseu, o tio da família, que os visitava todo ano, não tinha um dia que não acordava todo amassado.
Ao chegar na escola, Christopher ficou conversando com os amigos no pátio…
- Grande coisa a gente fazer uma festa no fim do ano - disse Carlos com tédio. - É a droga de sempre ¬¬’
- Pode até ser - concordou Chris. - Mas esse ano a gente vai batizar com álcool, música muito alta e piscina. - Dude olhou pra ele com um sorriso. - É cara, piscina também.
- Puts, Chris - disse Dude, dando um soco no braço do amigo. - Você pensa bem em... - Os três caíram na risada. - Agora, aonde achar um lugar com piscina pra alugar, é foda.
- Que nada - Chris disse fazendo pouco caso. - Meu pai tem uma chácara que tá sem uso. Se o grêmio estudantil convencer a diretoria de fazer a festa lá, tudo se resolve.
- É né - disse Carlos -, o grêmio estudantil. Como a gente iria conseguir fazer a cabeça deles?
- Verdade - apontou Dude. - Eles têm idéias próprias e acha a gente o lixo do colégio - revirou os olhos, rindo.
- Não dá nada... isso vai mudar. A gente vai mudar - disse Chris com um sorrisinho malicioso, os amigos olharam-no curiosos.
- Que se vai fazer, cara? - perguntou Dude.
- Trabalhar em cima da nossa imagem. - os amigos riram com a resposta, mas Chris não ligou, apenas ficou olhando o pessoal do refeitório. - Sério gente. Tá na hora de mudar.
- E virar nerd? ¬¬’ - disse Carlos bufando. - Puts na boa, isso não é pra mim ¬¬’
- Que virar nerd o quê - Chris balançou a cabeça, logo se pôs na frente deles. - Nós vamos ficar com as meninas inteligentes, vamos parar de aprontar, e vamos participar do acampamento anual do colégio - os meninos começaram a protestar. - É o único jeito de entrar pro grêmio estudantil, idiotas!
- Cara... que idéia de - Dude nem terminou de falar, e socou a própria mão. - Fala sério, Chris, nem você conseguiria pegar uma daquelas meninas. Oh mulherada feia viu.
- Ah, vai se ferrar idiota - disse Chris irritado, e Dude parou com a piadinha. - O Carlos namorou a Bianca e ela era inteligente, e nem por isso nós achávamos ela feia.
- Tá, a gente tá falando da Bianquinha, Chris - disse Carlos convicto. - Essas nerds parecem que odeiam o mundo, por isso andam esculachadas, judiadinhas mesmo. - Dude riu.
- Eu não acredito que vocês estão discutindo comigo ¬¬° - resmungou Christopher desdenhoso. - Olha: eu vou fazer um teste e se der certo, vocês fazem o mesmo, ta bom?
Os meninos concordaram.
- Quer uma lista das nerds que dá pra pegar? - sugeriu Dude rindo, e Carlos fez sinal pra ele fechar a boca e ele franziu o cenho. - Quê?
- Eu mesmo vou atrás da minha nerd - disse Christopher, já saindo de perto dos amigos.



Dulce entregou a prova quando o professor pediu, pegou a mochila, arrumou os materiais, e saiu da sala, seguindo para o refeitório. Na cabeça da garota se passava as inúmeras coisas que ela precisava fazer: arrumar o quarto, ir ao curso de inglês, comprar um tênis, ir ao cinema com as amigas. Tudo o que tinha planejado fazer com antecedência estava dando voltas em sua mente. Ela cruzou a porta do refeitório, pegou uma bandeja e foi se servir com a "ração", como costumavam chamar, do colégio. Pegou fruta, um sanduíche de salada de frango, a sobremesa e um suco de laranja. Meio atrapalhada, ela foi andando sem ver direito aonde ia, a procura de um lugar pra se sentar. Ao virar abruptamente para a esquerda, o braço bateu no estômago de alguém, e Dulce se desequilibrou, indo bandeja, ela e alguém pro chão. A garota escutou somente as risadas bem altas dos alunos que estavam ali. Suas orelhas começaram a pegar fogo, o rosto, as mãos. Dulce virou a cabeça em direção ao garoto que a fuzilava com os olhos, se levantando do chão, com a roupa respingada de suco, como a dela.
- Parabéns - ele disse ácido. - Agora vou ficar fedendo a suco a manhã inteira ¬¬°
- Foi mal - tentou se desculpar Dulce, levantou-se também, engolindo a vergonha com todo mundo olhando pra ela, e foi pegando o que era pra ser sua refeição.
- Deixa eu ajudar você - disse o garoto e prontamente foi juntando a comida e pondo na bandeja. - Só o suco que tá perdido mesmo.
- Do mesmo jeito eu não vou comer isso mais - disse Dulce e sorriu. - Valeu.
- Cuidado quando for pegar lanche viu - disse ele e foi se sentar numa mesa com outros dois garotos.
Dulce ergueu os ombros e foi para o pátio.
- Cara, você por acaso sabe quem é a menina que esbarrou em você? – perguntou Dude com sua cara de garoto rebelde.
- Nem faço idéia, mas ela me…
- Ela é do grêmio! – interrompeu Dude, e Christopher parou na hora. – Do grêmio cara!
- Aquela ruiva, baixinha… e que fala? :O
- Dãrrr… - Carlos balançou a cabeça. – É ela.
- Opa, opa, opa! Esperaê! – disse Christopher com um sorriso malandro nos lábios. – Então eu já tenho o meu passaporte por grêmio e não sabia?
- Você acha que ela vai dar bola pra ti? – disse Dude debochado. O_O
- Ela é esperta de mais pra cair na tua, Christopher – retrucou Carlos, rindo junto com Dude.
- Oh… - ele riu por baixo. – Estamos falando do papai aqui. Eu sei como pegar mulher.
- Mulher, não nerd – disse Carlos, fazendo Dude rir.
- Cara, você tá enchendo a boca pra falar. É só papo ¬¬’ – disse Dude revirando os olhos.
- Eu vou catar ela só pra provar que eu to com tudo!
- Vai em frente – riu Carlos. – Depois a gente não quer tá aqui ouvindo você ficar inventando desculpa, pra tentar limpar o teu filme.

Christopher saiu do refeitório, sem dar importância para os amigos que faziam piadinhas por trás. Foi atrás de uma pessoa que poderia ajudá-lo a fazer as coisas tudo bem feita. Ele sabia que podia contar com ela, por mais absurdo que fosse querer entrar pro grêmio estudantil, somente pra agitar uma festa, ele queria fazer isso para ser lembrado no colégio no próximo o ano e quem sabe até mesmo, por que não, daqui a dez anos, numa futura reunião de ex-alunos. Encontrou-a parada perto do chafariz, num canto onde fervia gente. Jhenny sorriu ao vê-lo se aproximar e o recebeu com um abraço. Ficaram abraçados por longos minutos.
- Sabia que você não consegue viver longe de mim – disse a garota com um sorriso.
- Eu sei e por isso to sempre procurando você – admitiu Christopher, se separou dela e cruzou os braços. – Como você tá?
- Ah, eu to bem, Chris, e tu? – Jhenny olhou a cara de sapeca e deduziu que ele estava querendo alguma coisa.
- Vim convidar você pra sair.
Ela deu risada.
- Qual é… conta outra.
- Eu vou entrar pro grêmio – disse Chris sorrindo, e ela ficou boquiaberta.
- Tá falando sério? O_O – ele assentiu com um aceno de cabeça e Jhenny caiu na risada. – Você junto com as pessoas que pensam?
- É né, vai zoando…
- Mas Christopher, que isso, nada a vê com você – disse ela ainda rindo, mas resolveu parar. – Como é que vai conseguir essa proeza?
- Vou virar um cara inteligente, esforçado – respondeu Chris fazendo poses.
- Ah, e quem vai ser o cérebro por trás de você?
- Uma garota ruiva .
- Têm tantas – Jhenny revirou os olhos.
- Mas eu estou falando daquela dali ó – apontou para a garota sentada perto das pedras calcadas, em baixo de uma árvore enorme, e Jhenny suspirou ao ver de quem se tratava.
- Essa garota estuda na minha sala – disse pra ele, olhando o amigo.
- Estamos em que mês do ano? – perguntou Christopher de repente.
- Em março, por quê? – Jhenny estranhou a felicidade que o guri ficou. – Chris?
- Vou pedir pra que me troquem de sala. Quero estudar na sua sala.
- Ah tá, como se fosse fácil assim – resmungou ela ácida. – Cada gente sem noção ¬¬’
- E… você conversa com ela?
- Às vezes sim.
- Ótimo… já tá bom pra começar – disse Chris com ar de vitória no semblante. – Eu preciso dessa menina. Como é o nome dela?
- Se chama Dulce e é bem quietinha na sala – respondeu Jhenny preocupada, tocou o braço do amigo que a olhou. – O que você vai fazer? Não vai brincar com os sentimentos da garota, vai?
- Claro que não… quer dizer…
- Christopher, lembra do nosso dilema: “Paramos aonde não queremos chegar” – repetiu Jhenny séria, tentando ver se assim fazia o amigo falar de suas intenções. – Você sabe o que aconteceu uma vez… não faz o mesmo joguinho não. A Dulce é legal.
- Se ela é legal, então eu vou entrar pro grêmio rapidinho – ele disse muito satisfeito.
- Não é bem assim. Tem que ter pelo menos 9 pontos em seis matérias pra entrar.
- Ela é inteligente, nerd mesmo, vai me ajudar a tirar os pontos que eu preciso – falou Chris, convicto. – Só escreve.
- E pra que você quer entrar pro grêmio? – perguntou Jhenny revirando os olhos.
- Por que quero ser lembrado como o cara da melhor festa que essa porra já teve!
- Um objetivo grande de mais, no meu ver.
- Engraçadinha ¬¬’
- Você que sabe u_u´
- Por isso que eu te amo!
E Christopher a encheu de beijos na bochecha, no pescoço, até Jhenny o fazer cócegas, para que ele parasse.
- Você ficou sabendo? – ela perguntou, depois que o ataque de riso foi cessado.
- Do quê?
- Os alunos do primeiro ano em diante vão passar a ter horário integral… - Christopher bufou, fazendo careta.
- Tá falando sério? .__.
- Lógico né.
- Puts ¬¬’
- Não, você não sabe da pior ainda – Jhenny disse, e ele franziu o cenho.
- Tem mais?
- Parece que a gente vai virar interno…
- QUÊ? =O
- Isso mesmo… parece que é um projeto não sei o que, que os diretos fizeram… muita putária isso sim.
- É… que foda – Christopher disse, logo o sinal bateu indicando o fim do intervalo.

No fim das aulas, Christopher ligou pra mãe, inventando um monte de estórias, dizendo que precisava mudar de sala, que os amigos não estavam deixando-o se concentrar nos estudos… e foi colocando tantos obstáculos, que a convenceu a vir falar com o diretor. Assim que ele desligou, foi procurar Dude e Carlos para contar aos amigos o que iria fazer pra entrar pro grêmio. Estava se sentindo com dez anos, porque era até infantil querer participar do grêmio para fazer festinha, mas ele queria por que estava no penúltimo ano de escola… e não queria se lembrar de tudo, das coisas como mais um aluno “normal”, Chris queria mesmo era se lembrar dos tempos de colégio com carinho e dizer “Ah sim, eu aprontei e me dei bem”. Era tosco, mas seria original. Depois ele encontrou Jhenny e foram pra casa juntos, até combinara de se verem no cinema mais tarde.

Epilogo

Epílogo

- Ela não quis mentir pra você, nunca! - gritou Jhenny, tentando fazer o amigo abrir os olhos. - Será que você é tão burro que não consegue ver?!
- É, eu fui muito burro sim - disse Chris quase gritando, o pescoço estava vermelho por causa da raiva, até mesmo tinha uma veia pulando. - Aquilo ali não passa de uma falsa, de uma sem-vergonha! Eu fui fiel, eu gostava dela de verdade, sabe? Do mesmo jeito ela pegou e me chifrou. É uma vagabunda, puta, sem-vergonha! Cara de pau!
- Não fala assim dela, que eu não vou deixar! - disse Jhenny se alterando, ele a olhou e balançou a cabeça, cansado de mais pra ficar discutindo por algo sem valor. - Foi tudo um engano, Chris, você precisa acreditar em mim!
- Tão ti fazendo de boba, Jhenny - disse ele, se escorou na parede, olhando o corredor vazio.
- Fizeram você de bobo!
- Nisso eu concordo - Chris riu, sem sucesso, passou as mãos no rosto, depois cruzou os braços, e engoliu com dificuldade a ardência na garganta. - O que ela fez foi criancice, ela é uma otária e não sabe.
- Chris... - ela murmurou com as lágrimas cravadas nos olhos. - Não tá acontecendo o que eu penso que tá... não pode ser...
Ele mordeu a boca pra não dizer a verdade, por que ele mesmo não estava agüentando a dor, a barra de presenciar aquela cachorrada, idiotice. A menina que ele mais defendia nesse mundo, estava se atracando com o técnico de vôlei, atrás no vestiário feminino. Tinha sido a cena mais horrível, a mais nojenta que ele já viu na vida. Se fosse uma pessoa estranha, que ele nem ao menos tivesse muito contato, ou quase não visse, era outra coisa, mas não, era a sua garotinha, a mesma que ele tinha livrado várias vezes de apanhar do pai alcoólatra, que ele se ajudava sempre a passar nas matérias que ela tinha dificuldade. Agora que a máscara tinha caído, Chris não sabia o que fazer, como chegar nela pra falar às coisas que estavam se acumulando em seu peito. De certa forma ela tinha o traído com aquele homem repelente.
- Se algum dia... uma garota me fizer sofrer que nem ela tá fazendo - disse Chris olhando para Jhenny, com ódio -, eu juro que não vou deixar essa garota em paz, até que ela sofra o dobro. Por que ser passado pra trás, fazer papel de idiota - ele maneou a cabeça, rindo cheio de raiva. - Nunca mais! Isso não é pra mim. Isso... isso me dá vontade bater com o taco de beisebol na cabeça dos dois. Por que os dois são cachorros. Um técnico que come as meninas do colégio, e aquela vadia, lambuzada... que nem mesmo saiu das fraudas, mas tá vendendo o corpo.
- Chris... - Jhenny se desfaleceu a chorar. - Eu... eu não quero perder a sua amizade.
- Você não vai perder - ele suspirou com desgosto. - Mas, me promete que não vai falar mais com aquela cretina, por favor - ele pediu desanimado, e Jhenny concordou com a cabeça e limpou as marcas das lágrimas. - Não chora por aquele mostro não. Aquela garota não merece nenhum de nós.
- Ela... me disse pra manter segredo sobre os encontros dela - resmungou Jhenny com voz abafada, se aproximou dele, olhando pra qualquer ponto da parede. - Eu traí você também, ajudando aquela vagabunda. - Chris pegou Jhenny pelo pulso, os olhos de ambos se encontraram. - Eu vou entender, Chris...
- Ninguém vai separar você de mim. Não você. Eu não vou deixar - disse Chris e começou a andar com ela, seguindo o corredor.
- O que vai fazer? - perguntou a garota fungando, sem entender nada.
- Vou tirar a gente daqui, antes que ela venha procurar a gente pra se "explicar" - enfatizou a palavra com desdém. - De mim ela só vai receber ignorância, nada mais.
- De mim também, Chris - garantiu Jhenny rapidamente. - Principalmente de mim.